2007-06-01

Ela ouviu a canção casualmente, mas aquela música lhe despertou uma certa nostalgia temperada com saudade e lembranças de tempos não muito remotos, porém tão distantes da realidade de águas mansas dos dias atuais.
A verdade é que as águas mansas sempre lhe caíram melhor, no entanto foi lhe roubada a mansidão sem que ela tivesse tido oportunidade de escolha.
Foi dessa forma que ela descobriu que o mundo trazia possibilidades infinitas para se estancar uma ferida que sangra.
As portas se abriam e ela explorava uma a uma, sem medo do que encontraria, por vezes as arrombou na ânsia de viver tudo.
A noite era sua aliada, à noite ela tinha os olhos pintados de preto e as unhas de vermelho escarlate, á noite ela queria sons, saliva e álcool.
Ela brincou com sentimentos, ela não deu satisfações, ela se permitiu experimentar coisas que se confrontavam com seus valores, ela sorriu, cantou, fumou unzinho e amanheceu com os cabelos despenteados numa cama que não era a sua. Ela gargalhou qdo lhe falaram de amor, levantou a bandeira do prazer por prazer e abafava no travesseiro os soluços de sua solidão derramada. Ela tinha a seus pés toda liberdade do mundo e amava isso tanto quanto odiava.
Ela parecia saber que só ali poderia ser tão intensa, por isso se jogou ao mundo de peito aberto e qdo caia levantava-se rapidamente antes que alguém passasse e a visse no chão. Ela descobriu uma estrangeira morando nas entranhas de sua alma, sabia que só dela dependia abandonar ou ao menos diminuir o peso de sua mochila recheada de porquês e dores... Ela só queria ser feliz, mas para isso precisava andar por toda trilha para descobrir onde é que a felicidade morava.
Até que um dia alguém lhe estendeu a mão e disse: Vem comigo...ela hesitou por algum tempo mas decidiu o seguir. Ele a levou de volta ao lago das águas mansas e mergulharam juntos até o fundo e então ela descobriu que era lá que a felicidade fazia morada e sua alma sorriu aliviada.
No entanto qdo ouviu aquela canção ela se lembrou novamente daquele tempo de loucuras, impulsividade, intensidade, aquele tempo que nada lhe importava porque nada sentia...ela já virou aquelas páginas, mas tem total consciência da intenção do destino ao escrevê-las, cada linha esboçada precisava estar ali como fragmentos disformes de sua própria história.

M.é o 1° conto sob encomenda que escrevo, espero que goste do resultado.

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